Atenção a emergências químicas e radiológicas

Atenção a emergências químicas e radiológicas

A participação do setor saúde na resposta a esse tipo de emergência é detalhada neste item tendo como base a publicação em inglês da OMS, o Manual for the Public Health Management of Chemical Incidents, particularmente no Capítulo 5, dedicado a respostas.

 1- Ações iniciais

O papel do setor saúde na eliminação das fontes de contaminação depende do cenário; por exemplo, se a contaminação é produzida em uma fábrica, o controle das emissões ou do vazamento é responsabilidade da empresa e dos organismos de resposta competentes (corpo de bombeiros, órgãos ambientais, especialistas em produtos perigosos). Por outro lado, se se trata de um surto, o setor saúde deve participar da detecção do incidente, identificar a origem e a natureza da contaminação e a interrupção da exposição (por exemplo, a retirada de produtos do mercado). Igualmente, deve participar do estabelecimento de possíveis cursos de ação para deter a propagação, a descontaminação e a proteção das pessoas, avaliando os possíveis perigos para a saúde em curto e longo prazo.

a. Descontaminação: Consiste em eliminar as substâncias perigosas entre as vítimas, as equipes de proteção e qualquer outro elemento envolvido no local do incidente químico, com o objetivo de evitar o movimento das substâncias contaminantes até áreas limpas. A descontaminação é mais eficaz na medida em que se conhece a substância química que produz a contaminação, o que facilita, por sua vez, a assistência à saúde adequada.

bZonas de controle de incidente. A organização mais comum para responder a um incidente é a seguinte:

  • Zona de exclusão (quente): Estende-se até bem longe do local do incidente para prevenir a contaminação primária de pessoas e materiais. Nessa zona não se realiza nenhuma tarefa de descontaminação ou atenção de pacientes, exceto a evacuação.
  • Zona de redução de contaminação (tíbia): É a área ao redor da zona quente e contém corredores onde as vítimas e as equipes de resposta são descontaminadas; nessa zona existe risco de contaminação secundária por objetos e indivíduos trazidos da zona quente.
  • Zona de apoio (fria): Deve estar livre de toda contaminação. As vítimas contaminadas e o pessoal de resposta devem ser descontaminados antes da entrada nessa zona. Nessa zona se localiza também o posto de comando e as áreas de coordenação.

O acesso às diferentes zonas deve ser estritamente controlado e limitado à menor quantidade de pessoas possível.

c. Proteção das pessoas: O equipamento de proteção pessoal é um modo eficaz de reduzir a exposição, mas, de modo geral, somente as equipes de resposta têm acesso a esses materiais.

Para a população exposta a uma fonte de contaminação por via aérea, podem-se aplicar duas opções principais: o refúgio in situ ou a evacuação. O refúgio in situ pode ser em suas próprias casas, fechando-se janelas, portas e qualquer sistema de ventilação ou ar acondicionado, até que se avise que o perigo tenha passado; sua efetividade, porém, depende em muito da hermeticidade das instalações, assim como da duração do tempo de exposição. Por essa razão, a opção mais frequente é a evacuação a uma zona limpa de contaminação.

A seguir, enumeram-se alguns critérios a serem considerados para se decidir se se deve evacuar ou refugiar no local. A consideração primária de risco é tanto o grau como a duração da exposição.

Quando evacuar?

 

A evacuação é a melhor opção quando:

A área ainda não está exposta, mas pode chegar a ficar.

A duração provável de exposição é tal que a proteção oferecida pelo refúgio pode ser insuficiente.

Os produtos químicos estão extensamente dispersos e a contaminação é persistente.

O produto químico ainda não foi identificado, mas se suspeita de que seja perigoso.

O produto químico é extremamente perigoso.

 

A concentração no ar será perigosa durante um período prolongado.

Existe o risco de explosão.

A quantidade de pessoas a evacuar é relativamente pequena.

A decisão de autorizar o regresso depois de uma evacuação depende da disponibilidade de dados de monitoramento ambiental que afirmem que a área é segura e possui capacidade para proporcionar serviços essenciais.

Igualmente, o retorno pode ter algum nível de restrição ou precaução, levando em conta as sequelas de contaminação (alimentos, água) e, se for o caso, deve-se assumir medidas de abastecimento de emergência.

2- Ativação da resposta

a. Advertência e alerta aos serviços de saúde: Uma vez ativado, é essencial que o setor saúde possa, rapidamente, fazer uma avaliação inicial do potencial ou dos riscos reais à saúde e ao entorno. Profissionais de saúde devem avaliar o estado das vítimas e, caso seja necessário, alertar a rede de serviços.

Os recursos de saúde e outras equipes de resposta ativadas devem receber a informação necessária sobre a natureza dos produtos químicos e as precauções a tomar. Em casos de vítimas em massa, deve-se ativar o Plano Hospitalar para Desastres e notificar outras unidades de saúde da área afetada.

b. Ativação das comunicações intersetoriais. Além das equipes de resposta locais, as organizações que devem ser notificadas de um incidente inclui:

  • Outras instituições governamentais: Devem ser notificadas para que se obtenham recursos e capacidades adicionais para a resposta e monitoramento governamental posterior.
  • Organizações internacionais: Em caso de emergências de saúde pública que possam ser de preocupação internacional, deve-se notificar a Organização Mundial de Saúde (OMS) segundo o estabelecido pelo novo Regulamento Sanitário Internacional.
  • Países vizinhos e outros: Se o incidente tem o potencial para afetar outros países, eles terão que ser informados rapidamente.
  • Agências não governamentais: Dependendo da severidade do incidente químico, agências locais e internacionais não governamentais podem ser solicitadas para proporcionar ajuda adicional, o qual é também um modo eficaz de maximizar recursos.
  • A empresa/fonte envolvida: Frequentemente detém informações cruciais sobre os produtos envolvidos no incidente e a experiência requerida para apoiar a resposta à situação.

A avaliação de risco apropriada durante o incidente pode ser útil para identificar indivíduos e populações provavelmente expostas, assim como os possíveis efeitos sobre a saúde em curto, médio e longo prazos. Existem três categorias principais de pessoas expostas à contaminação, cujos níveis de exposição podem ser diferentes:

  • Trabalhadores e outros indivíduos diretamente relacionados com o incidente;
  • Trabalhadores das equipes de resposta;
  • Moradores ou passantes próximos ao local do incidente.

Para agir adequadamente e tomar medidas de proteção e segurança são requeridas informações específicas sobre os riscos para a saúde e o meio ambiente. No Brasil, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que é um Centro Colaborador da OMS/Opas para emergências químicas, oferece informações acessíveis no seu Manual dos Produtos Químicos a partir do número da ONU ou nome ou sinônimo do produto. Nos EUA, o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) também oferece informações através do Guia de bolso do National Institute for Occupational Safety and Health (Niosh).

Por fim, deve-se realizar e manter um registro de pessoas afetadas, incluindo equipes de resposta à emergência.

3- Investigações durante o incidente

O objetivo primário de realizar investigações que ajudem a determinar os efeitos sobre a saúde ou sobre o entorno durante um incidenteé poder oferecer rapidamente subsídios para a proteção e o tratamento. Outro objetivo, secundário, é organizar investigações epidemiológicas para contribuir com a base de dados de saúde pública e a informação toxicológica.

Para oferecer subsídios para a proteção, deve-se obter informação sobre a fonte e o tipo do produto e as rotas de exposição prováveis e informações de base sobre a frequência, tipo e severidade dos efeitos de saúde causados pelo produto.

Para subsidiar o tratamento, deve-se identificar todas as pessoas expostas ao produto químico ou que sofram efeitos de saúde agudos e realizar investigações epidemiológicas, que, por sua vez, podem ser úteis para determinar a eficácia da resposta ao incidente e os tratamentos dados as vítimas.

Existem, muitas vezes, conflitos entre a necessidade de conter o incidente químico durante a etapa inicial da emergência e a necessidade de documentar cuidadosamente a exposição a ele e seus efeitos, para o quê é necessário que os procedimentos sejam combinados com as equipes de emergência, pois tanto é necessário iniciar as investigações epidemiológicas o quanto antes, como também é necessário que não se interfira nas ações de resposta.