Nas semanas posteriores ao período de emergência causado por um desastre agudo, como um terremoto, as necessidades no setor da saúde mudam com rapidez. No campo da atenção médica, por exemplo, a demanda das atenções de emergência é substituída pela demanda de atenção primária, a fase aguda da vigilância das doenças baseada nos postos sentinelas, é gradualmente substituída pela vigilância tradicional sem prejuízo de manter-se alerta a mudanças nos padrões de comportamento epidemiológico das doenças. As necessidades relacionadas com a saúde e o meio ambiente incrementam-se, assim como a atenção às necessidades da população localizada em abrigos temporários.
Os tomadores de decisão devem levar em conta a natureza e o comportamento dos desastres (agudos: terremotos, erupções vulcânicas e inundações súbitas ou de desenvolvimento lento: secas), com objetivo de identificar apropriadamente as necessidades de reabilitação precoce, porque cada desastre possui características próprias.
No entanto é importante enfatizar que não ha uma fronteira claramente definida entre a fase de emergência e a fase de reabilitação, isto é particularmente certo nos desastres agudos, sendo recomendável que se planeje as necessidades de reabilitação durante a fase de emergência com base em uma avaliação rápida de danos e perdas.
1- Avaliação de danos e perdas
As autoridades de saúde e as equipes técnicas responsáveis pela resposta rápida para o setor saúde serão os primeiros a coletar informação sobre as condições de saúde na área afetada depois do desastre. Estes deverão transmitir a informação obtida para a equipe de avaliadores do impacto do desastre e, portanto, é absolutamente importante ter idéia clara dos danos e das perdas para projetar as necessidades em curto prazo orientadas para a reabilitação funcional dos serviços essenciais.
Esta primeira avaliação realizada pela equipe de resposta rápida servirá de linha de base para a avaliação socioeconômica do impacto do desastre, a qual se realizará depois. Sobre esta avaliação é preciso realizar o planejamento da recuperação física e funcional com estimativa de custos e incorporá-los as solicitações de ajuda financeira.
De maneira genérica as áreas prioritárias:
- Efeitos na saúde pública derivados do desastre.
- Capacidade operativa dos estabelecimentos e redes de saúde relacionados a infraestrutura física, equipamentos e funcionamento das linhas vitais (água, energia elétrica, comunicações).
- Funcionamento dos programas essenciais de saúde na área da atenção médica e dos programas preventivos.
- Necessidades de água e saneamento básico incluído os dejetos hospitalares.
- Capacidade operativa relacionada a disponibilidade suficiente de recursos humanos em saúde.
Uma vez terminada a etapa de resposta imediata ao desastre e da avaliação inicial de danos e necessidades do setor, é recomendado realizar uma avaliação para determinar o impacto socioeconômico do desastre no setor saúde. Tal avaliação, baseada na metodologia desenvolvida pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), determinará as necessidades e as áreas prioritárias para a reconstrução, baseadas nos danos e perdas sofridos pelo setor.
Uma vez determinados os danos e perdas gerados, é possível desenvolver propostas para projetos de reabilitação e reconstrução.
2- Projetos para as necessidades mais importantes
2.1- Necessidades no campo da atenção médica
A pós-emergência deve considerar a continuidade do tratamento e reabilitação dos pacientes com tais necessidades, assim como assegurar o acesso aos serviços de saúde.
O retorno à normalidade da atenção médica nos estabelecimentos de saúde choca-se com o grave inconveniente de ter limitações em seu funcionamento devido aos efeitos ocasionados pelo desastre em sua infraestrutura e em seus serviços essenciais.
A reabilitação dos estabelecimentos de saúde emerge como uma prioridade na etapa pós-emergência, no entanto, em alguns casos, esbarra com inconvenientes relacionados com a escassa disponibilidade de recursos financeiros.
Durante a passagem do furacão Dean na ilha em 2007, o telhado do Hospital Bellevue na Jamaica foi danificado severamente. Um projeto de reabilitação foi lançado por parte do Ministério de Saúde e OPAS, com o objetivo de reabilitar completamente a instalação de saúde mental, alcançando a reabilitação completa de tal hospital.
Prioridades
- Reabilitação estrutural, dos estabelecimentos de saúde incluindo o primeiro nível.
- Equipamento básico para diagnóstico e tratamento.
- Funcionamento normal dos serviços de água, energia elétrica, lavanderia, comunicações.
- Medicamentos e suprimentos essenciais.
2.2- Necessidades no campo da vigilância das doenças
A vigilância das doenças esbarra, frequentemente, com limitações em laboratório, boa parte do equipamento pode ter sido destruído ou se encontra inutilizado pelo desastre - particularmente em casos de terremoto e inundações -, afetando negativamente o funcionamento da vigilância epidemiológica e ambiental para efetuar exames básicos necessários no diagnóstico de doenças ou para o monitoramento da contaminação bacteriológica da água entre outros aspectos.
Prioridades
- Assegurar o funcionamento básico dos laboratórios de saúde pública.
- Insumos para a prevenção e controle de doenças de potencial epidêmico.
2.3- Assistência às populações dos abrigos temporários:
Dentro do possível devem ser feitos os esforços necessários para que a população refugiada nos abrigos temporários volte às suas atividades normais, mas esta abordagem muitas vezes esbarra em inconvenientes e limitações particularmente relacionadas com a adoção de moradias. As necessidades da população de refugiados são muitas, e compreendem a assistência social para a atenção aos órfãos, ou os grupos mais vulneráveis entre eles idosos, mulheres e crianças. As demandas de atenção médica rotineira se incrementam e não se deve descuidar da saúde mental e da vigilância nutricional.
Prioridades
- Assegurar a continuação da atenção médica.
- Vigilância da alimentação adequada e da nutrição.
- Continuação da assistência preventiva de saúde mental.
2.4- A saúde ambiental
Depois de uma emergência, se não houver o devido cuidado, as ações essenciais relacionadas com a água e o saneamento podem contribuir a deteriorização das condições ambientais e constituir um risco para a saúde da população afetada por um desastre.
Prioridades
- Assegurar o abastecimento de água em quantidade razoável e o controle de qualidade.
- Priorizar a reparação e restauração das fontes de abastecimento, as redes primárias e secundárias cujas necessidades se expressam em maquinarias, materiais e especialistas.
- Reparação das redes de deságüe de águas servidas e excretas em zonas de maior risco para a saúde.
- Disposição ou tratamento dos resíduos hospitalares, pelo risco potencial de contaminação do meio.
3- Financiamento
Normalmente os recursos financeiros nacionais destinados ao funcionamento dos programas de saúde em situação normal esgotam-se muito rapidamente durante uma emergência, incluindo os destinados a atenção da emergência e não é tarefa fácil conseguir recursos complementares.
É extremamente recomendável que durante a elaboração da solicitação de apoio de emergência para a comunidade internacional, as autoridades de saúde incorporem em sua solicitação o apoio das necessidades para a etapa de reabilitação imediata e de curto prazo da infraestrutura, programas e serviços, cuja avaliação de danos demonstre factível sua reabilitação operativa.
Daí a importância de efetuar uma avaliação da capacidade funcional da rede sanitária completa, incluindo não só os grandes hospitais, sem também os estabelecimentos de primeiro nível de atenção, já que muitos deles podem ser reabilitados a curto prazo com um pequeno investimento, enquanto que os danos mais complexos são motivo de uma consideração mais cuidadosa para a etapa de reconstrução.
Durante o período de emergência as instituições cooperantes são mais anuentes e estão mais sensibilizadas a responder positivamente a solicitações de assistência, daí a importância de considerar nas solicitações de ajuda as necessidades projetadas no período da pós-emergência imediata.